fevereiro 20, 2011

Blogagem Coletiva: Ser ou não ser au pair?


Já são bem poucas (se é que atualmente há alguma) as au pairs ou futuras au pairs que leem este meu singelo bloguinho. Mas como a Luanda falou disso no último post e eu gostei do assunto (e também tenho meus pitacos), decidi transformar o post dela no início de uma blogagem coletiva (metida eu? nhem).

Como a Lu falou, ser au pair não é para todo mundo. E com isso não estou falando do fato de que os requisitos incluem ser moça solteira, sem filhos, com 18 a 26 anos, inglês viável e carteira de motorista. Não. Eu estou falando de outra coisa.

Ser au pair é para aquelas que estão dispostas a se sacrificar.

Porque morar na casa dos outros custa. E como custa!

Porque você vai ter um quarto para você e provavelmente um banheiro, mas não vai poder nem pensar em reclamar de barulho das crianças correndo na frente da sua porta quando é sua manhã off e você quer dormir.

Porque não é a sua casa, e isso significa que você vai se sentir pouco à vontade em mil situações, como quando tiver vontade de comer uma coisa especial mas vergonha de usar a cozinha deles ou na frente deles, ou de assistir televisão na sala, ou de comer algo que não sabe se pode, ou até de pedir para trocar uma lâmpada que queimou no seu quarto (acredite, dependendo de como está sendo a semana dos teus hosts, você pode preferir adiar um pedido bobo desses por vários dias).

Porque durante o ano a situação muda pelo simples desenrolar dos acontecimentos: o seu horário pode ficar maluco de acordo com a necessidade deles, ou eles decidem mudar de casa, fazer reforma (pode ser bem chato!), adotar gatos (meu caso! nada agradável), trazer a vovó para morar junto e dividir seu banheiro, enfim, mil coisas que não foram acertadas antes de você vir, porque simplesmente apareceram depois.

Porque você vai ter que aprender a fazer muitas coisas, e a lidar com crianças americanas. Leia: VOCÊ VAI TER QUE APRENDER A LIDAR COM CRIANÇAS AMERICANAS. Por mais que você tenha 5000 horas de experiência com crianças no Brasil, é diferente. Believe me, na America é diferente.

Porque você vai trabalhar, e vai trabalhar muito. E não é de segunda-a-sexta como você provavelmente está acostumada. Muitas vezes os pais vão querer sair no sábado à noite e quem fica com as crianças? Você, é claro. É seu trabalho.

Porque você vai querer chorar de raiva ou de saudades, e vai fazê-lo, muitas vezes. E muitas vezes vai querer falar com alguém familiar, um amigo, alguém da sua família, e vai descobrir que está todo mundo dormindo porque a diferença de horário com o Brasil é de 3 horas para mais*.

* Isso no fuso do leste no inverno, ou seja, de novembro a fevereiro, que é coincidentemente a época mais chata e depressiva do ano, sem contar as festas de fim de ano. Nos outros fusos horários, a diferença é maior ainda, podendo ser de 6 horas.

Porque você vai perceber que, por mais que a family seja amável e te faça sentir bem, eles não são sua família. São teus patrões, mas você mora com eles. É uma situação ímpar. Não tente comparar com seus chefes anteriores nem com seus pais. Não é nem uma coisa nem outra. Prepare-se para não ser convidada a viajar com eles (às vezes sim, conheço quem também já viajou por diversos países com a family, mas nunca aconteceu comigo), para não ter a quem abraçar e para fazer do seu quarto sua residência completa. Afinal, para manter sua sanidade é importante ter um canto para onde "fugir" no fim do dia. :)

Você vai estranhar no Natal, no Ano Novo, no seu aniversário e no de cada um de seus queridos. Porque vai estar todo mundo reunido e talvez você até os veja na webcam, só para se sentir mais só.

Porque as pessoas na America esperam de você. E esperam, em geral, mais do que você acha que esperam, e mais do que você acha que devia fazer. De uma maneira geral, o primeiro mês (às vezes só os primeiros quinze dias, ou até só uma semana) são um mar de rosas, todo mundo se adaptando, seus erros são desculpados brandamente, suas responsabilidades bem explicadas e a paciência de todos costuma ser mais farta. Depois do primeiro mês (ou quinze dias, ou semaninha, depende) as coisas começam a mudar de figura e você começa a perceber cobranças, perguntas e listinhas de tarefas que te transformam num polvo de oito braços. Podem surgir conversas com os hosts que vão de pequenas reuniões para te elogiar e te corregir um pequeno detalhe a broncas um pouco mais sérias. É nesta fase que o sistema nervoso das au pairs passa pelas provas mais duras, e em geral é a fase em que as families pedem rematch (não todas!!! só uma ou outra, ok? hauahaua). Como falei, esta fase pode começar um mês, quinze dias ou uma semana após a au pair chegar, e vai mais ou menos até os 4 meses.
Depois dos 4 meses (sendo que às vezes vai até os 6, mas as meninas que passaram por essa situação que eu conheço pediram rematch) as coisas se tornam mais brandas. Um pouco foi a family que aprendeu a aceitar algumas das suas manias (você as tem, não adianta esconder ou dizer que não), mas principalmente porque você aprendeu algumas das deles e se adaptou ao ritmo da casa. Por isso, do 2o ao 4o mês é o período que mais exige da au pair... o processo pode ser um pouco doloroso, e é a fase onde mais crescemos e amadurecemos... ou caimos fora.
A boa notícia é que depois desse período, como já disse antes, as coisas tendem a se tornar mais brandas, mais negociáveis, você passa a rir mais com eles, a conversar melhor e a não estar mais tão tensa.

Se adaptar, se adaptar, se adaptar! Estar disposta a aceitar condições não tão divertidas de trabalho, mudanças de planos, recorrentes atrasos ou sobrecarga nas horas, crianças doentes, manhosas (toda criança tem fases, não vai ser o menino mais comportado do mundo o tempo todo!), que não querem comer/dormir/tomar banho/tudo isso junto, dias ruins (mas quem não os tem, seja lá no emprego que for?). Aprender a se virar em muitos aspectos. É um exercício de todos os dias.

Mais uma coisa: se bem que o programa aceita meninas de 18 a 26 anos, não recomendo o programa para ninguém que não tenha pelo menos 21. Sério.
Ah, mas eu sou madura, eu sou crescida, eu criei meus irmãos/primos/sobrinhos/já fui treinadora de tigres no zoológico, eu tenho 19 anos.
Não venha. Ponto.
Espere 2 anos. E daí venha.
Porque, veja bem, e não querendo ser chata. Eu tenho 26, cheguei aqui com 25, para cuidar de um bebê de 2 meses de idade. Se tivesse 19, 20 anos, não escolheria, por nada deste mundo, ter essa responsabilidade.
O que dizer de quem tem 3 kids, de sei lá, 2, 4 e 7 anos. Que tem que dirigir os de 4 e 7 até a escola, mas com o terceiro no banco de trás porque não pode deixá-lo sozinho, mas para isso precisa convencer o de 2 anos (que se acha independente e está na idade dos terrible twos, de birras sem pé nem cabeça, e possivelmente em pleno potty-training ou "treinamento de penico") a se deixar colocar sapatos e sentar na cadeirinha do carro, e o de 4 (que está na idade do choro por qualquer coisa) a parar de fazer manha, largar a sua perna (ele vai estar agarrado nela, sem deixar você se mexer e chorando descontroladamente) e entrar no carro também. Antes dos 21 você não tem maturidade emocional para lidar com esse tipo de situação. Em inglês. Acredite. De todas as au pairs que já vi desistir pelo caminho, 90% tem até 21 anos.

Acrescente a isso uma ideia do que fazer se uma criança engasga. Como chamar a emergência e fazer um procedimento qualquer, manter a calma para escutar e executar instruções. E mesmo o fato de dirigir com crianças no carro. Não quero desencorajar, mas nem sequer fazendo um esforço de imaginação você vai conseguir mentalizar os diversos percalces que você passará no dia a dia. Mais uma vez, em inglês.

Se você chegou até este ponto do post e não fechou a janela do blog em franco desespero, parabéns!
Tratei de pintar na primeira parte tudo que há de pior na vida de au pair, porque muitas meninas chegam aqui com muitas ilusões, com uma ideia muito vaga da vida que levarão, pintando tudo como nuvens cor-de-rosa, e quebram a cara porque ninguém falou com elas claramente quando estavam pensando em ser au pairs.
Mas nem tudo está perdido. Agora vou te contar a parte boa.

Au pair não ganha muito. Fato. Isso, se for comparar com o que ganha uma nanny aqui nos EUA. E vai fazer basicamente o mesmo trabalho, pela mesma quantidade de horas. Masss... tem casa, comida, e roupa lavada (por ela mesma). Além disso, às vezes tem carro com diversos graus de permissividade, telefone celular quase que à vontade (não para ligações internacionais, ok? Ah ta), wi fi, computador emprestado até você comprar o seu (se você não trouxer um, vai acabar comprando mais cedo ou mais tarde. 100% de certeza), seguro saúde e diversas outras facilidades. Sem pagar um centavo. Dizer isso nos EUA é muito dizer, porque aqui o custo de vida é alto. Mesmo.
(Falta dizer: nem se iluda achando que você custa pouco para a family... além de seu pagamento, eles pagam uma boa fatia para a agência. Não ache que está sendo explorada por isso, como já vi meninas se queixarem por aí, afinal, a agência é o elo que te possibilita estar aqui por um ano com todo o conforto e os benefícios da legalidade).

A vida de supérfluos aqui (80% do seu pagamento vai para supérfluos, podecrê) é muito boa. Todas as au pairs viajam muito mais em 1 ano aqui do que em 5 anos no Brasil (ou mais), compram computador, câmera fotográfica, ipod, ipad, etc, além de roupas, sapatos, Victoria's Secrets, maquiagem, livros, e muitos etc mais, dependendo qual for o "veneno" de cada uma. Conhecer lugares diversos, seja em viagens sozinha, com outras au pairs ou com a family é algo fantástico, você vê, vive, cresce, chora e ri, realiza sonhos. É muito bom mesmo!

As crianças podem ser muito carinhosas e você vai se divertir com elas. Como já disse antes, isso não será 100% do tempo, mas vão haver bons momentos. Pode ser muito recompensador escutar um "I love you" de seus kids, ou ver que aquele bebezinho que dormia o dia todo quando você chegou, agora vem correndo dizendo teu nome e te abraça.

Você cresce, cresce, CRESCE! Seu inglês melhora muito, seja este seu objetivo ou não (não era o meu, foi apenas consequência), perde a vergonha de falar e não ser entendida, tentar de novo e acabar falando coisa errada, ver pessoas rindo de seu sotaque e perguntando de onde você é. Conhece otras au pairs do mundo todo e também brasileiros que moram por aqui, e que tem as histórias mais incríveis. Faz amizades intensamente. Começa a falar sozinha (9 em cada 10 au pairs que conheço dizem isto), aprende a ser organizada ou tapear muito bem (fico com a segunda opção, hahaha), e mil outras coisas. Cada dia pode ser uma nova experiência, ou pode ser uma sucessão de semanas que cai na rotina sem muito para contar (isso principalmente nos períodos em que você está economizando). Pode ser que você conheça neve, mas believe me, depois das 2 primeiras nevascas perde a graça e fica chatíssimo.

Que mais? Bom, com certeza tem mais coisas, mas o post já está gigante, e deu para passar o básico. Vou só citar aqui um trecho do post da Luanda que me pareceu muito certo:
enfim, depois de contar [quase] toda a minha história, se acho que vale a pena?VALE. e muito. mas esteja disposta a fazer coisas que NUNCA fez ou achou que teria que fazer na vida; controlar seu gênio forte e mau-humor; crescer e AMADURECER; TRABALHAR DURO; contar somente com você mesma pra certas coisas; tentar não dividir todos os problemas com a sua família no brasil [eles estão de mãos atadas e não vão poder ajudar e muitas vezes nem te entender; tenha ao menos UMA AMIGA AU PAIR com quem vc possa dividir coisas que ela vai entender perfeitamente]; aprender a economizar [se vc n fizer, ninguém fará por vc]; e claro, SE DIVERTIR, afinal, nem só de trabalho nós vivemos, não é verdade? 
segure as pontas e ande na linha, não dê motivos pra reclamarem do seu trabalho, dê o melhor de si, faça um esforço a mais... e no fim, vc só terá a ganhar. EU GARANTO que vale a pena! ;) 
Vale, vale a pena SIM. Mas só se você estiver disposta a deixar aquele seu EU egoísta, reclamão, preguiçoso e cheio de mimimi de lado. Todas nós temos um lado assim, em maior ou menor grau, e isso não se adapta à vida de au pair. O aprendizado pode ser duro, mas vale a pena. Lá se vão quase 16 meses desde que desembarquei aqui, e mal reconheço a garota que chegou. Esteja disposta. Esteja aberta a mudanças. Mude. Não tenha medo de mudar. Você não vai perder seus direitos ou sua identidade por causa disso, só vai se libertar de coisas que julga necessárias, mas que quando olhar para trás, vai ver que não eram. E isso não significa que vai se deixar pisotear, afinal você conhece as regras do programa e os direitos que te são garantidos. Fora isso, seja flexível. Exercite a paciência, o bom senso, abra a mente, prove (comidas, cores, lugares, roupas e sapatos!). Escolha seus novos favoritos!

E mais um último conselho: quando os dias ruins vierem (eles virão, believe me), não se afunde em drogas chocolates. Porque depois o tempo ruim passa e os pounds a mais ficam. E você vai passar o resto do ano tentando perder esses traços do estresse e da ansiedade dos primeiros tempos. :)


* Foto 1: Com Day, Isis e Ariane, no dia que despedimos a Day. Ela já voltou para casa, em 3 meses será a Isis, em mais alguns meses a Ari e finalmente eu. Amizades fugazes, apoio de quem entende exatamente pelo que você está passando e a promessa de se encontrarem no Brasil depois. Isso é muito bonito.


* Foto 2: Com a Maria, minha BFFAP (best friend forever au pair), quando reviramos a Califórnia de ponta cabeça. Ela já voltou para o Brasil, o que me causa profunda saudade.

6 comentários:

  1. uaaaaaau li tudinho... as 2 e tal da manhã hahahaha achei ótimo, completou com louvor tudo o que eu disse, com mais detalhes... até pq eu só falei da parte chatinha heheh

    ameiiii o termo BFFAP hahahaha vou roubar!!
    bjs, to te linkando lá no post editado ;)

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  2. Oii mari tudo bom?
    Amei o post. To me preparando pra ser Au Pair com certa antecedência por que pretendo embarcar apenas no final do ano que vem.
    Confesso que fiquei bem angustiada com a primeira parte do post, e sei que mesmo que você tenha escrito todas essas coisas a realidade será apenas a minha quando eu chegar lá.
    Desde que conheci o programa sempre fiquei "mas nossa, é tão barato, é tão mágico, tem que ter alguma coisa errada..."

    Ter não tem né, mas só o período de adaptação e todos os sapos engolidos devem pagar essa facildiade toda, hahahaha

    To seguindo, gostei bastante daqui :)

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  3. Mari!
    Adorei o post, posso perceber o quanto vc amadureceu mesmo. Interessante a parte onde vc fala em dirigir com as crianças, levar p/ escola e mais um bebê... eu passo por tudo isso e são meus filhos, imagina com os filhos dos outros... como diria um amigo meu: descansa carregando pedra!
    Este blog está cada dia mais fofo e delicioso de ler.
    beijo flor!
    Thaís

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  4. Oi MAri..
    Li tudinhooo..
    esses posts são bons, para abrirem os nossos olhos..
    Obrigada, viu..
    Vou te acompanhar agora.. To te seguindo.
    BEiju

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  5. ii, te achei no Blog da Luanda, e vim correndo ver seu post... q não deixou a desejar!! Adoreiii!!! AMO ler esse tipo de post, q nos preparam pra chegar bem antenada nos States!!! Se alguEM mais postar sobre isso me dha um tok, please^^ To te seguindo :) Bjoo

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  6. Oi mari, bom peguei seu blog que que a Larissa fez no grupo. Fiquei curiosa, entrei pra ler.
    Ameeeei seu post, menina você escreve muito sem contar que é o tipo de coisa que precisamos ouvir.
    Nem preciso te dizer que to te seguindo né.
    Só pra finalizar, obrigada pelo post...parabéns!!

    Bjinhos

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