De repente, assim, do nada, me lembrei de que nunca falei disso por aqui.
Quando na rua alguém me pergunta qual é o nome dela (ou pergunta diretamente para ela, o que tem acontecido cada vez mais -apesar de que ela se recusa a responder e geralmente esconde o rosto, normal para uma criaturinha de 2 anos) e eu respondo, já espero a reação normal que segue em sequência:
1- Cara de espanto (eu é que me espanto de como as pessoas podem ser rudes. Como se todo mundo tivesse que se chamar João ou Maria - nada contra, tá?)
2- Frase: Que nome bonito! Qual é a origem?
Ou, em sua versão menos delicada: Legal! E de onde você tirou esse nome?
... ¬ ¬ ...
3- Tentativa (quase sempre errada) de pronunciar: Ha-... Ahd- ... Adássia? É isso.
4- Eu corrigindo: Ha-da-ssa (se pronuncia com H aspirado, como o R na garganta).
Não que não soubesse que isso iria acontecer e bastante. Mas me choca a falta de sensibilidade das pessoas. Como esperar que as pessoas acolham as diferenças se até um nome um pouquinho diferente causa tal estranheza?
Por exemplo, tem o nome Raíssa. Compare foneticamente Raíssa com Hadassa.
Muito parecido, né?
Que eu conheça, ninguém tem a menor dificuldade em falar Raíssa. Não causa estranheza nenhuma. Mas Hadassa sim. Mistérios.
Mas enfim. Já estou divagando.
Estava eu tentando fazer um post sobre como chegamos até o nome.
Bom, foi um longo caminho. Para quem se lembra, fomos saber o sexo lá pela 27a semana. Se fosse menino, já estava quase batido o martelo. Ia ser Davi. E estávamos praticamente certos de que era menino, afinal, a avó do Enos tinha falado que era menino e ela não errava nunca. Mas desta vez, errou.
(Parêntese: infelizmente, dona Natália faleceu quando a Hadassa tinha 12 dias e não chegou a conhecer a bisnetinha, que ela jurou que era bisnetinho).
Quando então ficamos sabendo que era uma menininha e passado o susto inicial, começamos a procurar ativamente por nomes de menina.
Começamos é um modo de dizer: antes de saber já tinhamos corrido pela minha lista de nomes (que já estava sendo feita desde o momento do teste positivo) e o Enos tinha descartado todas as minhas ideias. TODAS.
As ideias dele também não me agradaram. Quase todo dia um, ou os dois, chegava com outra sugestão, e o outro descartava. Não havia consenso de maneira nenhuma!
Ele sugeriu que gostaria de pôr o nome da vovó Natália, que estava bastante doente com câncer. Seria uma linda homenagem e eu gosto de nomes em homenagem, mas... não gosto de Natália. Por mais que me esforçasse, simplesmente não conseguia. Mais uma vez, não houve consenso.
Uma das maiores dificuldades, e era algo que os dois sentiamos, era que: ao escolher um nome, deixaríamos automaticamente de considerar todos os outros nomes. E isso era difícil de assimilar. Como escolher um só e deixar todos os outros nomes de lado? Como preferir um nome entre os milhões de possibilidades... e esquecer do resto?
Um belo dia, ele lembrou da época que trabalhava no colégio e de que tinha uma menininha chamada Hadassa. Como ele era monitor, todos os dias chamava as crianças quando os pais chegavam, e ia conhecendo os alunos pelos nomes. Me sugeriu, eu pensei um pouco. Era um nome bonito, bíblico, forte. E único. Não falei nem que sim, nem que não. Precisava pesquisar a respeito. A origem, o significado.
Me joguei de cabeça na pesquisa. Hadassa era o nome original da rainha Ester (acredito que tenha sido seu nome hebraico original, pois na Bíblia diz assim: "Hadassa, também chamada Ester." Dali pra frente, só chama ela de Ester. O nome Hadassa aparece somente uma vez nan Bíblia. Como ela estava no meio de povo estrangeiro, acredito que Ester fosse o nome pelo qual foi chamada depois ou que tenha trocado de nome por necessitar se misturar à multidão, sendo Hadassa seu nome de nascimento original. Não há muita claridade a respeito).
Um resumo da história:
A rainha Ester foi uma moça forte pelas circunstâncias. Chegou a rainha porque o rei gostou dela, e quando se viu numa posição privilegiada, defendeu seu povo mesmo que isto significasse grande risco para ela mesma, e ajudou a evitar a massacre e a injustiça contra os hebreus, desmascarando um traidor.
Se quiser ler a história na íntegra, está
aqui.
Além dessa história linda dessa mulher forte, encontrei que Hadassa significa "flor de murta", uma família de arbustos de flores muito aromáticas (
veja aqui), bastante comum no oriente.
Pronto! Significado, o nome tinha. E era belo. E isso para mim era importante. Mas... ainda tinha minhas dúvidas.
1- Nome de rainha. Forte. Será que não seria um "peso" muito grande para um bebê, para uma criancinha? Fiquei com medo de sobrecarregar a pobre bebezinha.
2- Eu queria um nome duplo. Mas nada, absolutamente nada, combinava com Hadassa. Então, se fosse o escolhido, teria que ser somente Hadassa. Ora, e se ela crescesse e não gostasse do nome? E tivesse que carregar Hadassa pelo resto da vida porque não tinha um segundo nome para usar?
3- A história bíblica dizia que era o nome de uma moça órfã de pais. Ora, pode parecer superstição, mas dessa parte eu não tinha gostado.
Dúvidas, dúvidas.
Mesmo com Hadassa na cabeça, voltamos a considerar Beatriz, que incrivelmente estava agradando os dois. Mas perto de Hadassa, Beatriz perdia o brilho (nada contra, ainda é um nome que acho bonito, simplesmente não era o nosso nome). O Enos até voltou a sugerir Natália. Mas não. Íamos e voltávamos, e retornávamos a Hadassa. Fomos bater o martelo poucos dias antes de ela nascer, e mesmo assim, a certeza mesmo só veio naquela noite em que ela nasceu.
Hoje vejo o quanto é apropriado o nome que demoramos tanto para escolher. Ela é toda forte, independente, tem seu tempo para tudo e não gosta de ser apressada. Tem seus momentos de rainha também, querendo mandar e desmandar, mas também já mostra uma capacidade argumentativa que me deixa boba. Mas de tudo, de tudo, ela é uma florzinha, que chega espalhando perfume e graça por onde passa.
Demoramos tanto, mas escolhemos o nome certo para ela. Hadassa, nossa Hadassa, nossa rainha, nossa flor.