agosto 05, 2014

Relato de parto. Parte 1

Antes tarde do que nunca. E assim, para comemorar os 5 meses da senhorita Hadassa, vou finalmente fazer meu...



RELATO DE PARTO

Primeiro que tudo, quero esclarecer:
Meu parto foi exatamente como eu gostaria que fosse? Não. Mas eu sabia desde o início que dificilmente teria do jeito que gostaria ou que acho melhor.
Masss, foi melhor do que eu esperava, sabendo que seria numa instituição pública que eu não tinha escolhido, dentro do SUS? Sim, com certeza bem melhor do que eu esperava.
Claro que nas instituições existem regras, e por não querer me adequar a elas eu teria preferido ter um parto domiciliar. Mas a situação geral (não só financeiramente, mas também psicologicamente, e em relação a todo um conjunto de fatores que na minha cabeça têm que estar alinhados para que um parto domiciliar seja possível) não permitiria ter um parto domiciliar. Mas desde o início do pré-natal em Curitiba fui encaminhada para a maternidade Victor Ferreira do Amaral, e mesmo depois de tantas mudanças de cidade, acabei voltando para o mesmo lugar e para a mesma maternidade, que é referência em partos humanizados aqui em Curitiba e pioneira destes “novos métodos” de “des-hospitalização”, como pude ver quando fui fazer a visita, algumas semanas antes do parto.

Os dias prévios
Tive a última consulta na sexta feira, 28 de fevereiro, com 38 semanas e 4 dias. Não teve exame de toque, mas o médico me informou que a bebê estava encaixada e baixa (inclusive me ajudou a sentir a cabecinha dela). Poderia ser a qualquer momento, mas ele apostava que demoraria alguns dias ainda. Saí da consulta tranquila, pensando no que iria fazer para o jantar.
No sábado decidimos não ir à igreja, por causa do calor e do meu tamanho todo, que tornava bastante incômodo andar de ônibus. Passamos o dia tranquilos em casa e saímos para dar uma caminhada leve ao entardecer. Tranquilamente, fazendo planos e aproveitando o sossego do sábado de carnaval. À noite uma conhecida me ligou. “Para quando é o bebê?” “Para qualquer momento”, respondi. Rs.

O início
No domingo de carnaval, dia 2 de março, acordei cedo sentindo dores leves na base das costas, como em ondas. Nada tenso, só desconfortos passageiros. Dormi mais um pouco, no fim das contas era domingo e feriadão! Acordei por volta das nove e comentei com o Enos sobre as dorzinhas. Cheguei a pensar se não seria o começo do trabalho de parto, mas afastei esse pensamento. Se fosse mesmo, com o passar das horas iria ter certeza. Mas podia ser só um desconforto na cintura devido ao peso da barriga e à postura.
Levantei e fui fazer minhas coisas. Durante o feriadão, só estávamos em casa o Enos, minha sogra e eu. Decidi nem comentar nada com a sogra por enquanto, e até pensar o menos possível na possibilidade de a minha filha estar para chegar, para não ficar ansiosa antes do tempo. Afinal, eu queria ficar em casa o maior tempo possível antes de ir para a maternidade.

Fui para o tanque lavar mais umas roupinhas da bebê, fraldas de boca e etc. Era uma maneira de me distrair, e se estivesse mesmo em trabalho de parto iria precisar delas logo. Lavei e pendurei no varal um monte de coisinhas, e então decidimos ir até o sacolão, como fazíamos em geral aos domingos de manhã. No caminho, mais algumas dorzinhas. As sentia vir de leve, se tornarem mais fortes e depois irem se esvaindo, mas não eram fortes e não me impediam de falar ou caminhar normalmente. Por precaução, decidi marcar o intervalo entre elas, mas era bastante irregular: às vezes quinze minutos, às vezes quarenta.
Voltamos para casa depois de fazer as compras e ao chegar em casa senti um mal estar esquisito, uma tontura e dor de cabeça. Pensei que podia ser por causa do calor. Sentei, tomei água, e foi passando. Sogra fez almoço e sentamos para almoçar mas comecei a sentir desconforto ao estar sentada. 
Na minha cabeça, começou a ficar mais forte a convicção de que estava chegando a hora. “Dito e feito”- pensei comigo. “Eu sabia que seria no carnaval”. Também comecei a ter que parar o que estivesse fazendo e me concentrar na dor quando ela vinha, mas apesar de tudo tentei permanecer o mais tranquila possível. Doida por uma estatística como sou, comecei a tabelar horário, duração e intervalo das dores, e até fiz uma coluna para “intensidade da dor”, que comecei a marcar numa escala de 1 a 10. Paranoica? Não! Eu estava me divertindo e saboreando cada momento.

Depois do almoço fui deitar e tentar descansar, afinal, se estivesse mesmo em trabalho de parto iria precisar de toda a energia possível. Consegui dormir um pouco, mas as contrações (que até então e meio que em negação eu chamava de “dorzinhas”) me acordaram várias vezes. De vez em quando o intervalo entre elas baixava para 6 minutos e eu pensava comigo: “oba! se continuar assim, daqui a pouco vou chamar o Enos para irmos para a maternidade”. Mas então espaçavam de novo para 12, 15 minutos. Foi assim por várias vezes, sem entrar num ritmo. Eu parava e respirava enquanto durava a contração, e depois continuava fazendo o que estivesse fazendo como se nada.
Fui para a cozinha me distrair com alguma coisa. Tinha deixado aveia de molho para fazer leite, então bati o leite e ainda fiz cookies com o resíduo. Parava o que estava fazendo quando as contrações vinham, e continuava normalmente depois.

Uma tarde longa
A tarde passou. Pelas 18 horas a intensidade das dores foi aumentando, e os intervalos ficaram mais regulares, de 6 a 8 minutos. Passei a tabela para o Enos e ia avisando ele cada vez que tinha outra contração. Ele cronometrava e anotava. Com o tempo e a regularidade, passou a me avisar (com bastante exatidão) quando estava próximo de vir mais uma. 
Entrei na internet para ver se conseguia falar com a minha mãe. Ela que passou por quatro partos normais era a minha referência mais próxima e mais confiável, já que a sogra teve somente cesáreas. Porém, era domingo à tarde e minha mãe tinha ido com a minha irmãzinha a um desfile de carnaval. Mesma coisa com minha irmã, e só pelas oito horas consegui me comunicar com meu cunhado. Logo depois ambas, irmã e mãe entraram na internet e pude contar como iam as coisas e pedir conselho a minha mãe. Ela concordou que pela descrição parecia mesmo que estava em trabalho de parto e que deveria me arrumar para ir à maternidade. 
O intervalo não havia diminuído nas últimas duas horas, mas a intensidade havia aumentado: agora eu parava e me apoiava dobrando para a frente até a contração passar, agachava, ou subia na cama de quatro. Decidi esperar o intervalo diminuir mais, enquanto fazia a mala para a maternidade, que ainda não tinha nem começado a fazer. Não foi por descuido: guardei mesmo a atividade para essa hora a fim de me manter ocupada e assim menos ansiosa.
Combinamos que iria tomar um banho e depois iríamos para a maternidade. Não queríamos ir e ter que voltar, mas por outro lado estávamos um pouco inseguros sobre qual seria a hora certa de ir. Fui tomar um banho e ohhhh que alívio para minhas costas! A água morna era tão boa que permitiu que me acalmasse bem.
Não queria sair do banho, mas era preciso. Com o banho, as contrações deram uma parada, então decidimos esperar mais um pouco. Sogra nos preparou um lanche, conversei mais um pouco com a minha mãe e depois com meu pai, que perguntava por que não tinha ido para a maternidade ainda. Pelas 22h as contrações voltaram a ficar fortes e regulares, e decidimos nos arrumar para ir. Um vizinho iria nos levar, então também não queríamos deixar ficar muito tarde se fosse possível.
Pelas 23:15 finalmente saímos de casa. Vizinho dirigindo, eu, Enos, sogra, minha mala, mala da bebê, bolsa, bolsa da câmera, documentos na mão, ou seja, bagagem completa. Ir sentada no carro foi bastante incômodo, mas em menos de 15 minutos estávamos lá.

Perspectiva de uma noite animada
Surpreendentemente a recepção estava bastante cheia para esse dia e horário, mas me chamaram bastante rápido. Uma mulher na sala de espera, querendo puxar conversa, me perguntou se estava sentindo as dores. Devo ter grunhido afirmativamente, porque jogar conversa fora àquela hora e naquela situação não era exatamente o que eu tinha em mente. Ela então contou que a filha dela tinha sido induzida de tarde e estava já no Centro Obstétrico, e que só tinha ela e mais uma mulher parindo, ou seja que apesar da recepção estar cheia, lá dentro estava bastante vazio. Ok então, obrigada pela informação.

Me chamaram. Um médico mais jovem que eu (desconfio que beeem mais jovem que eu) e visivelmente inexperiente, começou a me fazer perguntas e preencher minha ficha. Tudo bem, hospital-escola tem dessas coisas. Mas dr. Henrique era bem atencioso. Pergunta isso, pergunta aquilo, e pede que coloque uma daquelas camisolinhas infames (mas que fechava na frente, pelo menos!) para me examinar. Ficar deitada de costas para ser examinada foi uma tortura, ainda mais durante as contrações, que estavam bem próximas, a cada 4 ou 5 minutos. Ouviu os batimentos da bebê, confirmou que parecia estar tudo em ordem e então fez exame de toque. Perguntei quantos centímetros tinha e meio hesitante respondeu que iria procurar a médica de plantão para uma segunda opinião. Quase ri na cara dele. “Sou cobaia ou o quê?” pensei, me sentindo como em Grey’s Anatomy.
A médica veio. Ela estava quase deixando o plantão, mas me examinou. “4 cm”, concordaram. “Você já vai ficar internada. Tem alguém para ficar com você?”. Respondi que sim, e que por favor fossem falar para o Enos o que estava acontecendo. Se estivesse com 3 cm iriam me mandar de volta para casa, mas com 4 e sendo que a madrugada estava apenas começando e para que não tivesse que andar de correria no meio da noite, decidiram me manter por lá. O médico que estava entrando de plantão no lugar da dra. que tinha me examinado e que se chamava dr. Narciso (mas só fui perguntar o nome dele quase no fim do parto, rsrs), apareceu para se informar do meu caso. Opinou: “4 cm e contrações não muito eficientes? Hum, se prepare porque a noite vai ser longa. Sua filha vai nascer lá pelas 6 da manhã”.
Em algum momento disso tudo pedi para usar o banheiro, acho que foi depois do exame e enquanto os médicos conversavam. Acontece que ali nas salas da triagem não havia banheiros, e tive que sair, camisolinha fofa e tudo, para usar o banheiro da recepção, que ficava bem na frente da sala de espera. Fazer xixi entre contrações foi incrivelmente doloroso e uma das partes mais desagradáveis, e foi quase literalmente que “vi estrelas”.


Bom, já está longo então vou parar por hoje. Amanhã continuo.

2 comentários:

  1. Legal seu relato Mari... Pra mim foi mais ou menos parecido. Nao sei como termina a sua historia, mas o meu bebê veio logo depois dos 4cm na entrada no hospital, mesmo achando que aquela madrugada seria incrivelmente loooonga.
    beijos e aguardo o resto do relato...

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  2. Mari querida,
    muito legal ir lembrando dessas coisas, sabe que eu nunca escrevi meu relato de parto? de nenhum dos dois, mas sempre que conto pra alguém me emociono, me reporto àqueles momentos que sempre serão lembrados com carinho. Literalmente voltei no tempo com o relato da madrugada, rsrsrs, os meus dois trabalhos de parto começaram depois da meia noite, só que o primeiro durou 6 horas e terminou numa cesárea de emergência. Já o segundo durou 1 hora e 31 minutos (isso mesmo!) e foi um parto natural sem nenhuma intervenção, pura adrenalina!
    Beijos, saúde e felicidade querida e aguardo ansiosamente a continuação!
    Thais

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