novembro 24, 2015

Sobre birras e ataques de raiva

Recentemente, digamos há um mês atrás (pouco mais ou pouco menos), a Had começou a mostrar mudanças no comportamento.
Agora que já dominou completamente a arte do andar e correr e percebeu que mais além da diversão em si caminhar também pode ser uma ferramenta e tanto, utiliza seus ágeis pezinhos para levá-la em todos seus propósitos.
Juntamente, descobriu o que é essa tal de liberdade. De locomoção. De ideias. De ações. De pensamentos.
E descobriu que isso é bem, bem bacana.

Aí então, percebeu que pode querer fazer algumas coisas que mamãe e papai não querem que faça.
Ou deixar de fazer algumas coisas que mamãe e papai querem que faça.
Porque ela tem a capacidade de decidir o que quer ou não.
Percebeu a beleza dessa coisa de liberdade?
Além disso, temos a descoberta de que objetos inanimados podem não se comportar como ela quer que se comportem.
E de que fatores -internos ou externos- também podem não ser controláveis.

E foi assim que surgiram as crises de raiva, minha gente.

Porque mamãe chamou para escovar os dentes, porque o livro caiu no chão, porque a boneca está com a cabeça virada (essa é ótima), porque quer passear mas mamãe falou que agora já é noite e passear só amanhã, porque o sapato não quer entrar no pé, porque quer água no copo vermelho, porque não quer água no copo vermelho, porque não vamos ver fotos agora, porque quer colo e tem que ser agora, porque tenta falar e não compreendemos o que é, porque a massinha de modelar é verde e não amarela, e por aí vai...

Ela começa com um grito alto e estridente, que pode se abrir em um eco de novos gritos, ou pode desatar em um choro insuportavelmente alto. Pode se jogar no chão, ou ir correndo para um cantinho, ou se jogar sobre um sofá ou o que estiver por perto.
Mas o mais triste é a carinha de decepção, vermelha de raiva, que me parte o coração.

Confesso que no início minha paciência passou por duras provas. Imaginei que os "terrible twos" estariam dando as caras mais cedo em casa. Pensei, orei, refleti, li diversas fontes, e cheguei a um plano de ação para reagir aos ataques que estavam ficando cada vez mais frequentes.
Não acredito que crianças sejam más e esses ataques ocorram por maldade, por serem mimadas, ou coisa e tal. Li em algum lugar (já nem sei onde, perdão) que é a maneira que eles têm de decodificar o mundo e que é tão, tão normal. Os ataques vão ocorrer, o que muda é o jeito que nós, adultos, reagimos a eles. Eu sou a mãe, deve ser MINHA prioridade cuidar do bem estar da minha filha, que inclui ajudá-la a compreender o mundo a seu redor.

Então me armei de paciência e de algumas dicas. Comecei a prestar atenção nos sinais que avizinhavam uma crise (se bem que algumas são tão repentinas que é impossível prever). O sono é o maior desencadeante de crises, então me agilizo para não deixá-la ficar exausta.
Sempre que possível, comecei a oferecer escolhas simples. "Você quer escovar os dentes com o coelhinho ou com a miminha (boneca)?" "Hoje colocamos a camiseta amarela ou a roxa?"
Ela começou a ficar feliz em participar, em tomar decisões.
Quando uma crise aparece, eu faço um esforço para largar aquilo que estiver fazendo para cuidar da situação, mas não dou a ela aquilo que ela quer no momento, para ela compreender que os gritos não são um meio válido de conseguir o que quer.

Quando percebo que ela está acessível, dou um abraço e a acalmo. Uma das leituras que fiz sugere isto porque eles se sentem desamparados quando estão no meio de uma crise, e o abraço ajuda a que encontrem o porto seguro. Nesse caso, ela se acalma rapidamente com o abraço.
Às vezes ela está se debatendo e não está muito acessível, então só me agacho na altura dela e faço um carinho com a mão para que ela perceba que estou de seu lado e esperando para poder ajudá-la. Em geral, ela logo abre os braços e vem me abraçar.

Aí então enquanto estamos abraçadas falo com calma e firmeza, mas sem nenhum tom bravo ou impaciente, que se ela chora eu não consigo perceber o que ela precisa, e que se ela falar com calma a mamãe entende o que é e pode ajudar.
Em geral dá certo e ela tenta pôr em palavras o que a está deixando frustrada. Se é algo que ela quer fazer e não pode, ou algo que precisa ser feito e ela não quer, e eu falo o contrário, a crise pode recomeçar. Nesse caso, tento conversar com calma para fazê-la entender que escovar os dentes é importante e não é negociável, ou que não pode andar descalça porque o chão está frio, mas pode escolher qual sapato quer usar.

Não sei se é porque foi só uma fase ou se a estratégia tem dado certo, mas nos últimos dias os ataques diminuiram bastante. E assim vamos. :)
Ela ama deitar na grama.

Com a inseparável miminha.

2 comentários:

  1. Ai como te entendo. Por aqui essas crises vão e voltam e é meio tenso, nem sempre tenho a paciência que seria necessaria pra lidar...

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    1. Pois é, Bárbara! Tem dias que é mais fácil deixar de fazer uma tarefa simples e focar no que ela precisa. Mas é claro que tem outros que estou mexendo com fogão, atrasada para sair, no meio do banho, enfim, tantas coisas que não dá simplesmente para largar e atender. Ou com tanta coisa na cabeça que fica difícil achar a paciência necessária, mas cada vez mais estou me esforçando. Acho que ser mãe vai muito além de "ser isso ou aquilo" e passa muito mais por "tentar a cada dia ser melhor que o anterior". Um abração!

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